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A HERANÇA PIANÍSTICA BRASILEIRA

03/06/2020 Larissa da Costa Arte e Música

Alexandre Dias, diretor do Instituto Piano Brasileiro. (Fonte: reprodução YouTube).

 

O Instituto do Piano Brasileiro (IPB) nasceu da paixão do ainda menino Alexandre Dias pela música e, em especial, de sua fascinação por Ernesto Nazareth, compositor considerado o pai do choro do piano brasileiro. Aos 14 anos, Alexandre começou a pesquisar a obra do compositor e só encontrou um álbum de partituras de sua autoria, da Editora Fermata, antiga Casa Arthur Napoleão. Diante da dificuldade para encontrar as obras do compositor, Alexandre, além de garimpar em sebos partituras e LPs com composições de Nazareth, passou a permutar com outros colecionadores e a ir ao encalço de pianistas de gerações passadas, até que sua coleção chegou a mais de 2 mil gravações e a enfeixar todas as partituras escritas pelo compositor. Parte deste acervo culminou no site Ernesto Nazareth 150 Anos, produzido, em 2013, pelo Instituto Moreira Salles. 

Com o sucesso da empreitada, Alexandre prosseguiu na pesquisa e passou a colecionar obras discográficas, só que, desta vez, de outros compositores como Chiquinha Gonzaga, Henrique Alves de Mesquita, Marcello Tupynambá e Eduardo Souto. Depois de mais de 15 anos coordenando projetos dedicados à recuperação e preservação de obras de compositores brasileiros, Alexandre decidiu abraçar o arrojado projeto que abarcasse o piano brasileiro em sua complexidade, motivado principalmente pela percepção de que havia consideráveis lacunas, informações fragmentadas, obras desaparecidas, enfim, um legado só equiparável ao da Rússia e da França, países de larga tradição pianística.

Assim, o IPB foi fundado em 2015 com o propósito de servir de centro de referência da memória do piano brasileiro tanto do ponto de vista dos compositores como dos pianistas. Para cumprir tal finalidade, foi criado o site Instituto Piano Brasileiro, com uma ampla bases de dados, incluindo discografia, partituras, seção de imagens, bibliografia dos compositores e pianistas, enciclopédia com verbetes inéditos e o blog com informações atuais.

Grande parte veio da doação de acervos que pertenceram a grandes nomes do piano brasileiro, tais como Guiomar Novaes, Aloysio de Alencar Pinto, Souza Lima, Lucia Branco e Neusa França. Outras tantas vieram de pianistas menos conhecidos e professores de piano. O material é bastante diverso, contendo cartas, partituras, fotos, discos e contribui intensamente para remontar e contar a história do piano no Brasil. Até o momento, já foram digitalizados mais de 50 acervos de diversas partes do país, que somam dezenas de milhares de itens.

Os acervos de Souza Lima, Guiomar Novaes e Sylvio Deolindo Fróes possuem, cada um, cerca de 1.500 documentos. Os de Eudóxia de Barros e Belkiss Carneiro de Mendonça contam mais de 2 mil partituras. Já o de Aloysio de Alencar Pinto ultrapassa 5 mil itens. Um dos maiores é o de Hermelindo Castelo Branco, digitalizado em parceria com a Casa do Piano, que compreende cerca de 6.300 partituras para canto e piano – é o maior acervo de canção brasileira de que se tem notícia. Ao todo, já foram mais de 200 mil páginas digitalizadas e cuidadosamente processadas, resultando em um vasto e precioso acervo, que atende a pesquisadores, pianistas e professores diariamente.

Em 2018, o IPB inaugurou sua sede em Brasília com uma sala de interação com o público e para gravação de entrevistas. Lá, há ainda exposições do acervo e são promovidos saraus gratuitos abertos ao público.

Em janeiro de 2019, o Instituto passou a realizar recitais – a série “Piano Brasileiro”–, cuja estreia lotou o auditório da Fundação Habitacional do Exército para ouvir Nelson Freire interpretar obras de Villa-Lobos e outros compositores.

Por meio do seu site e canal no YouTube, o IPB alcança tanto o ouvinte casual como aquele que deseja estudar ou interpretar as peças disponíveis on-line. No Podcast IPB, encontram-se entrevistas com pianistas e personalidades ligadas ao mundo do piano. Nas redes sociais são apresentadas as últimas do site, como os novos discos raros digitalizados e as gravações inéditas que vão sendo descobertas.

O Instituto do Piano Brasileiro existe e se mantém graças a uma campanha de financiamento coletivo no site Catarse. Cada assinante contribui com um valor livre mensal, e, como agradecimento, recebe um álbum em formato digital a cada mês com 10 partituras raras brasileiras cuidadosamente escolhidas do acervo. A próxima meta é a contratação de uma equipe fixa, o que resultará num salto muito maior na produção de conteúdo para a internet, sempre tendo em vista a divulgação da cultura pianística brasileira.

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Larissa da Costa

Nascida em Porto Alegre e criada em Vacaria, na Serra Gaúcha, herdou dos seus pais a vontade de viajar. Advogada de formação, escritora de coração, aventureira por emoção, veio para a Europa em 2001 em busca de novos desafios e de seu lugar no mundo. Mãe de duas crianças, já trabalhou em diferentes áreas.