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Ouro Preto - Minas Gerais

15/10/2018 Emerson Penha Raízes Culturais

Fotos: Valério Azevedo/ Horizonte Filmes 

Antiga capital do Estado de Minas Gerais (até 1897), Ouro Preto fica a 95 km da atual capital, Belo Horizonte. É um dos destinos preferidos pelos turistas brasileiros e estrangeiros, atraídos pelo grande e bem conservado patrimônio histórico, os museus e os restaurantes, entre outras coisas.

Diferentemente da colonização do Nordeste ou mesmo do litoral do Sudeste do Brasil, Minas Gerais nasceu urbana. Os primeiros vilarejos surgiram em função da exploração do ouro. Os sinais do metal foram encontrados numa região onde havia um pico muito alto que tinha um outro menor ao lado – a “pedra com criança”, ou “ita-koromi”, em Tupi, uma língua dos índios – que hoje conhecemos como Pico do Itacolomi. Era ouro de aluvião, lavado das rochas pelos cursos d’água que desciam das montanhas, e era encontrado no fundo dos córregos quase sempre recoberto por uma camada escura de paládio, um outro metal. Era muito ouro.

Duas lavras foram se formando na região já no fim do século XVII: a do Ouro Preto, nome dado pela característica escurecida do metal, e a de Antônio Dias. Em 1750, no auge do ciclo do ouro no Brasil, as duas já tinham se emendado, de tanta gente que chegava, e o lugar passou a se chamar Vila Rica. Fazia jus ao nome: tinha 120 mil habitantes (mais do que tem hoje), era maior que Londres e havia ali mais pianos que em Paris, tamanha a riqueza encontrada. Foi a mais rápida expansão urbana das Américas, título que permanece até hoje em posse da cidade. 

Quando o Brasil ficou independente de Portugal, em 1822, o lugar voltou a se chamar Ouro Preto. Já não havia mais o minério de aluvião, fácil de garimpar, e não existiam ainda recursos para a exploração profunda. A região entrou em decadência econômica que só foi superada quando o ouro e outros minérios voltaram a ser explorados, já no século XX, com técnicas modernas.

Os Imperadores do Brasil – D. Pedro I e D. Pedro II - visitaram Ouro Preto, cada um a seu tempo. Em 1876, foi por ordem de D. Pedro II que foi criada a primeira escola de engenharia do Brasil, a Escola de Minas de Ouro Preto. Ali também está a Fundação Gorceix, a mais famosa entidade de estudos minerais da América do Sul. É ali que são catalogados os minérios de todo o Continente e emitidos laudos técnicos sobre a qualidade e o teor de cada rocha. A mineração, portanto, continua a ser a principal atividade econômica da região, com a extração e o beneficiamento de diferentes minérios. 

A cidade é um museu a céu aberto. Tem pontes e chafarizes do século XVIII, ruas adornadas por casarões de época e igrejas suntuosas com altares em ouro cheias de trabalhos de mestres do Barroco como Athayde ou Aleijadinho. Ali nasceu a literatura brasileira do estilo arcadista, com poetas como Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manuel da Costa. Ouro Preto também foi palco de diversas rebeliões contra a Coroa Portuguesa, sendo as duas mais famosas a Revolta de Felipe dos Santos, em 1720, e a Conjuração Mineira, em 1789. É muita história! 

Mesmo sendo uma cidade que nasceu lusitana, o traço mais forte notado na música, na estética e principalmente na culinária é o de origem africana. Andar pelas ruas permite notar que a maior parte de seus habitantes é negra, descendente daqueles escravos que vieram para explorar o ouro no século XVIII. Aliás, falando em andar pela rua é bom estar preparado para enfrentar muitas ladeiras! 

Hoje, com seus prédios barrocos e suas ruas estreitas, Ouro Preto é um marco de um país de outrora, referência para estudos de nós mesmos e nossas origens como civilização ocidental. Suas inúmeras histórias nos dão a chance de planejar nosso futuro como povo e como nação.

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Emerson Penha

Jornalista e documentarista. Já passou pelos principais canais de TV do Brasil e foi correspondente na América Latina e na África.