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O frevo no trabalho de Mariangela Valença

04/02/2020 Fernanda Krüger Educação

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Baile Municipal do Recife (2016). Participação de Mariangela Valença como coreógrafa e bailarina no show da cantora Elba Ramalho.  (Foto: acervo particular).   

Uma manifestação cultural brasileira transformada em conteúdo paradidático, inclusivo e multilíngue.

 

O frevo e a cidade de Recife andam juntos e de mãos dadas. Esta expressão cultural aglomera diversos elementos artísticos – gêneros musicais e instrumentos variados, coreografias e adereços – e o frevo se traduz em uma efervecência de sons, passos de dança, cores e movimentos em representações individuais e coletivas deste braço da cultura popular tradicional. Assim, ficam garantidas a preservação e a transmissão, de uma geração a outra, de costumes, usos e práticas do Nordeste brasileiro. 

Seu valor artístico é claramente visto em diversas esferas – desde agremiações carnavalescas a eventos promovidos por órgãos culturais. Na capital pernambucana, por exemplo, quem determina o ritmo do carnaval não é o samba, e, sim, o frevo. Classificado como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, em 5 de dezembro de 2012, o frevo possui elementos cravados no nosso inconsciente coletivo. As sombrinhas coloridas, a dança – com o inconfundível passo marcado pela flexão dos joelhos e movimentos na ponta dos pés e calcanhares – e a música típica moldam a sua imagem figurativa. No entanto, sua história oferece muito mais, estendendo-lhe uma relevância além da beleza dos arquétipos culturais e seu caráter alegórico. 

Em meio a essa profusão de significados relacionados a tão importante símbolo da cultura pernambucana, destaca-se o trabalho de mais de 30 anos da eclética Mariangela Valença. Coreógrafa, bailarina e atriz, além de radialista, produtora cultural e psicóloga, Mariangela é idealizadora e realizadora de projetos pioneiros com reconhecimento nacional e internacional. 

Seu primeiro contato com o frevo foi como espectadora durante uma apresentação do Balé Popular do Recife (1990). Pouco depois, ela trocaria a plateia pelo palco, fazendo sua estreia profissional como bailarina integrante do elenco desta mesma companhia de dança. De lá pra cá, não parou mais e seguiu empregando a multiplicidade de seus talentos na arte de representar a cultura popular do seu estado. 

Em 2002, com o objetivo de difundir o frevo de forma ampla e educativa, idealizou e lançou o DVD Frevo – Aprenda o Passo. Ideia pioneira, este material incluía uma videoaula, ensinando, de forma lúdica, os muitos passos do frevo. 

Os projetos não parariam por aí. Em 2008, debutou como escritora, lançando um livro sobre o frevo, voltado ao público infantil (6-11 anos). O que poderia ter sido apenas mais uma publicação sobre o contagiante ritmo pernambucano foi, mais uma vez, um projeto visionário. Por meio de incentivo do Fundo de Incentivo à Cultura de Pernambuco (Funcultura), o livro Aula-espetáculo – 100 anos de Frevo foi lançado primeiramente em braile, nos idiomas português e francês, tornando-se o primeiro registro sobre o tema na linguagem das pessoas com deficiência visual.  

Edição em português do livro Aula-espetáculo - 100 anos de Frevo.  

A versão em tinta do livro aconteceu em 2011, com edições em línguas portuguesa e francesa. Mais tarde, em 2013, novamente com o apoio do Funcultura, ele ganharia versões em braile e em tinta em cinco idiomas: alemão, espanhol, francês, inglês e italiano. Parte de um projeto maior de valorização cultural e ensino do frevo, este trabalho percorreu o Brasil, Portugual, França, Bélgica, Alemanha, Inglaterra, EUA, Cuba, Suécia e Itália, com apresentações e divulgação de suas obras.

Em 2015, resultado de mais um desdobramento do projeto Frevo – Aprenda o Passo, o DVD contendo a videoaula era lançado também em libras e com audiodescrição – material disponível no site e, em breve, no IGTV @marifrevo.

O caráter de inclusão e pioneirismo sempre foi a marca registrada do trabalho desta pernambucana de energia empolgante. Tendo sempre em mente a acessibilidade de todos como fator importante para a preservação do ritmo e da cultura, Mariangela também reserva grande parte do conteúdo que produz para doações a escolas, bibliotecas e institutos de cegos. 

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Fernanda Krüger

Idealizadora e fundadora do br+ Foco no lado positivo do Brasil!© e da iniciativa pioneira BRmais e o Português como Língua de Herança no Ensino Globalizado©. É também cofundadora do programa de leitura em língua portuguesa Encontros de Leitura/ Portugiesischer Vorlesetreff, na Biblioteca Infantojuvenil de Frankfurt e criadora do selo editorial Papagaios pelo Mundo®. Especialista em LIJ pela UCAM.