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EM 25 ANOS, MAIS DE MIL VIDAS TRANSFORMADAS

17/03/2020 Eveline de Abreu Terceiro Setor e Cidadania

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Divulgação Associação Fernanda Bianchini. (Reprodução trecho vídeo YouTube). 

 

A Companhia de Ballet de Cegos, menina dos olhos da Associação Fernanda Bianchini (AFB), é uma iniciativa sem precedentes não apenas no Brasil como fora do país. Com sede em São Paulo, capital, o projeto que contava, no início, com dez alunas, atualmente, ao completar 25 anos, abraça mais de três centenas, e sua metodologia para o ensino do balé clássico destinada a deficientes visuais tem servido de parâmetro para o resto do mundo. Nestas duas décadas e meia, a companhia exibe em seu currículo apresentações no Brasil e no exterior.  

 

PRIMEIROS PASSOS – A origem da Associação de Ballet de Cegos Fernanda Bianchini  remonta a 1995, quando uma religiosa do Instituto de Cegos Padre Chico, em São Paulo, convidou Fernanda Coneglian Bianchini Saad para ensinar os primeiros  passos do balé clássico a pessoas assistidas por aquela instituição, com o finalidade de incentivá-las, lançando mão de uma atividade inerente a uma expressão da cultura. Foi, então, que a jovem bailarina passou a sistematizar um método de ensino, composto de técnicas inusitadas, transformando em ‘possível o que se considerava impossível’: dotar a quem é privado do sentido da visão da exata noção do espaço, pela prática regular da dança. Essencialmente e em poucas palavras, a sensibilidade artística  estimulada pelo toque no corpo do aprendiz e pela repetição dos movimentos. 

"Uma bailarina deve sempre

olhar para as estrelas,

ainda que não as enxergue. 

 

A partir de 1999, o grupo de bailarinos passou a integrar apresentações de dança e festivais dentro e fora do estado de São Paulo. Rapidamente, o grupo foi contemplado com a extraordinária categoria em dança para deficientes, favorecendo claramente o avanço da inserção de pessoas nesta condição.

Em 2003, quando o sonho excedeu as possibilidades dentro do Instituto Padre Chico, o que fora ideal, até então, materializou-se com a fundação da Associação de Ballet de Cegos Fernanda Bianchini (AFB). Desde então, a instituição tem se defrontado com o desafio de responder à altura a solicitações diversas, como formação de outras companhias de dança voltadas para portadores de deficiências que não os cegos.

Entre os professores e além da própria Fernanda Bianchini, figuram Geyza Pereira da Silva e Veronica Batista, ambas deficientes visuais formadas na própria entidade. Ao todo, são 13 professores que se alternam no suporte de cerca de 200 inscritos na escola, distribuídos em turmas por tipos de aprendizado, de acordo com as categorias previstas no estatuto da associação.

Fernanda Bianchini (à esquerda) e alunos da Cia Ballet de Cegos. (Reprodução trecho vídeo YouTube). 

 

UM MUNDO PARA TODOS - A inclusão social de deficientes visuais em que a arte é o caminho é a missão da Associação Fernanda Bianchini. Para tal, a associação estabelece um vínculo com cada assistido, em que o compromisso é transformar vidas. “É a compreensão e a aceitação das diferenças que tornam direitos iguais em oportunidades equitativas”, diz a criadora do primeiro método de ensino de ballet clássico para deficientes visuais e responsável pelo único grupo profissional de bailarinas cegas no mundo. 

É da insistência

constante e terna que

nasce a compreensão 

de que tudo é possível

 

Os resultados são patentes. Ao lado do balé clássico, a AFB tem multiplicado o princípio da inserção social pela manifestação artística, criando cursos gratuitos de dança de salão, danças para a terceira idade, expressão corporal, sapateado e teatro. Sem esquecer de que já está em funcionamento a Companhia de Ballet para Cadeirantes. O reconhecimento é visível nos mais de 100 troféus recebidos e no sem-número de homenagens prestadas durante todos estes anos de história e estrada.

 

COM ASAS NOS PÉS - No repertório dos espetáculos, constam A Bela Adormecida e O Quebra-Nozes (dois dos três balés de Tchaikovski); Casa de Bonecas (adaptado da peça teatral homônima de Ibsen), Coppélia (coreografia original de Arthur Saint-Léon); Dom Quixote (inspirado no romance homônimo de Cervantes); e Paquita (criado por Joseph Mazilier e Paul Foucher).   

A Companhia de Ballet de Cegos já pisou o palco do prestigioso Theatro Municipal de São Paulo. Assim como participou de inúmeros festivais – Festival de Inverno de São Paulo, Festival de Joinville, Festival de Indaiatuba, Festival New Dance de Campos do Jordão e o Festival Internacional de Osasco. Outros eventos foram a Campanha Criança Esperança, a abertura dos Jogos Parapan-Americanos no Maracanãzinho, ao lado da orquestra regida pelo maestro João Carlos Martins, e o espetáculo Somos Todos Brasileiros.

Fora do Brasil, a companhia se apresentou no Festival Faber de Dança – o primeiro voltado para deficientes – que teve lugar na Alemanha; na cerimônia de encerramento das Paraolimpíadas, nos Estados Unidos; e em evento  promovido pela Lilly Farmacêutica, na Inglaterra.

 

"ADOTE UMA BAILARINA" – Até o momento, cerca de 500 pessoas foram beneficiadas pela inserção social promovida pela instituição. Mas existem milhares de deficientes no país que poderiam usufruir da ação revolucionária da arte.  

A manutenção da obra provém de contribuições corporativas, doações de empresas e de particulares, da participação da companhia de balé em eventos e das palestras motivacionais de Fernanda Bianchini a respeito da metodologia pioneira do ensino da dança para deficientes visuais ilustradas com as histórias das experiências dos alunos. 

No entanto, a falta de recursos pode ameaçar o projeto. A contribuição mensal de apenas 150 reais assegura o curso de ballet, o vale-alimentação, o kit uniforme e figurinos dos espetáculos.  

Para saber como aderir, basta entrar em contato com a Associação Fernanda Bianchini. Fica na Rua Domingos de Morais, 1.765, no bairro de Vila Mariana, na cidade de São Paulo. Os telefones são (+5511) 5084-8542 e 5084-6063.

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Eveline de Abreu

Publicitária e redatora. Descobriu a vocação para ensinar quando dirigia a assessoria de comunicação de um órgão público e precisou treinar e capacitar estudantes de jornalismo. Desde 2007 na Europa, adaptou esta experiência exitosa à versão digital e fundou a Incubadora de Escritores – serviço on-line de análise e parecer, apoio no desenvolvimento de textos, capacitação e revisão de conteúdo. A nostalgia do Brasil a levou a cozinhar e anotar receitas, na tentativa de compensar pela boca a saudade que lhe invadia o coração. O resultado tem sido a culinária natal, reinventada com produtos locais, e textos de dar água na boca.